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Emoções mapeadas
Estudo mostra quais regiões do corpo são 'ativadas' por sentimentos como
raiva e felicidade e conclui que sensações têm caráter universal
MONIQUE OLIVEIRA DE SÃO PAULO
Aperto no peito, frio na barriga, cabeça quente. Quem nunca usou essas expressões
para traduzir uma emoção?
A sabedoria popular já sabe que emoções causam alterações físicas. Os
cientistas também: a rigor, emoção é o estímulo que afeta o sistema límbico
[região do cérebro que a processa] e é capaz de mudar o sistema periférico.
Faltava saber exatamente onde essas mudanças físicas ocorrem, o que pode
ajudar a melhor definir as emoções e entender os transtornos afetados por elas.
No intuito de responder a essa questão, cientistas da Universidade de
Aalto em parceria com a Universidade de Turku, ambas na Finlândia, pediram a
700 voluntários que indicassem quais áreas do corpo sofriam alterações quando
sentiam uma determinada emoção.
Para incitar cada estado emocional, foram usadas palavras, músicas e
filmes. As alterações sentidas podiam ser de qualquer ordem --dor e calor, por
exemplo.
Com os dados, um software montou um único circuito para cada emoção
--raiva, medo, desgosto, felicidade, tristeza e surpresa (chamadas de básicas)
e ansiedade, amor, depressão, desprezo e orgulho (tidas como correlatas).
"Tanto o computador como outras pessoas reconheceram as emoções
descritas, o que denota o seu aspecto universal", disse à Folha Riita
Hari, professora da Universidade Aalto e uma das autoras do estudo, publicado
na revista da Academia de Ciências dos EUA, "PNAS".
Assim, emoções ligadas à excitação, como raiva e felicidade, foram
associadas com ativações e calor dos membros superiores.
Já as emoções que indicam estado depressivo ou de tristeza foram
relacionadas a menor atividade nos membros inferiores, como adormecimento das
pernas e pés.
Sensações no sistema digestório e ao redor da garganta foram
relacionadas a desgosto. Felicidade foi a única emoção associada com calor e
ativações no corpo inteiro.
O estudo pode ajudar a identificar emoções nem sempre distinguíveis,
como tristeza e desgosto.
"As emoções têm vias autônomas só interpretadas depois",
explica Aílton Amélio, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo. "Saber quais são elas promove o entendimento de processos
emocionais e é um recurso terapêutico."
Doenças caracterizadas por desordens emocionais como depressão e
transtorno bipolar também podem se beneficiar dos achados. "É uma
ferramenta diagnóstica", afirma Riita Hari. "Os mapas podem estar
alterados nesses pacientes."
Estudos de neuroimagem já mostraram que esses indivíduos, quando
estimulados por emoções negativas, exibem maior atividade cerebral. Essa
dinâmica é inversa à obtida em pessoas saudáveis.
"Mas é preciso ter cuidado para não limitar tudo em uma
caixa", afirma a psiquiatra Alexandrina Meleiro.
José Bombana, psiquiatra e professor da Universidade Federal de São
Paulo, lembra ainda que diferenças culturais precisam ser consideradas.
As emoções também provocam alterações hormonais, como o aumento do
cortisol, hormônio associado ao estresse. "Quando prolongadas, são
responsáveis por outras doenças, como transtornos mentais e diabetes",
explica Alexandrina.
Emoções podem ainda mudar a expressão de genes. Estudo da Universidade
da Califórnia, publicado na "PNAS" em fevereiro, mostrou que pessoas
felizes apresentam menos genes da inflamação que depressivos, o que os protege
contra doenças.
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FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO